quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Relato de um jovem perseguido pela neura Por Leandro Evangelista

Domingo, 07 de setembro de 2008. Dia do aniversário da minha mãe.
Vou assistir a uma peça da qual não gosto e no caminho pra casa decido que serei eu o responsável pelo registro das aulas da semana.

É... depois de ter ouvido tantos registros tão bem feitos vai ser difícil realizar essa proeza.

SAI.

Chego pra aula de dramaturgia com os sentidos mais abertos do que de costume pra não perder nenhum detalhe...

Hum... Então quer dizer que só agora que vai fazer o registro resolveu ficar inteiro nas aulas?

ME – DEIXA – EM – PAZ.

Improviso da cena de interrogatório das testemunhas do Shopping Center. Sentamos e discutimos por horas. Me sinto até bem participativo.

E... blá blá blá só, não adianta não. Leva pra cena.

Que cena? Nem deu tempo.

Me vejo assim: dou uma idéia e logo a repenso. Logo a rejeito. Sempre tem um “mas”. Será por reconhecimento de serem mesmo ruins minhas idéias ou falta de auto confiança em mim.

Isso não é terapia! É o registro da semana.

SAI NEURA.

Também me sinto num túnel escuro, colaborando pouco às vezes, com a cabeça do tamanho de um globo, etc, etc, e tantas outras qualidades que já apareceram aqui.

Nossa! O que significa tudo isso?

Significa a bagunça que é morar em mim.

Volta pro registro!

Tá bom.

Senta a bunda na cadeira e escreve. Não. Tira a bunda da cadeira, levanta. Senta a bunda na cadeira. Tira a bunda, põe a bunda. Vai bunda vem bunda. Cai um aqui, trepida outro ali.

(Suspiro) Ai, Ai, cansei. Haja perna hein.




É filho, ator treina. É preciso estar pronto.


Tenho a sensação de que já é meia noite, por causa do cansaço e por parecer sexta-feira. Mas opa peraí. Ainda é terça.

Sendo assim, então trate de recobrar suas forças e continuar o treinamento.

Puta merda!!! Cortei o pé.


Hum....Puta merda é.....sei.....no fundo é mais uma desculpa pra poder descansar um pouco. Preguiçoso.

SAI DAQUI NEURA JÁ DISSE.

Palavra. Palavra. Com passos rápidos no breu já estamos na quarta-feira correndo no mud até a boca de cena. Palavra. Palavra. De repente, corpos caem. Logo se levantam, mas tornam a cair. É como chuva. Chuva saindo da terra, caindo de baixo, caindo pra cima.
Mas as trilhas nos levam. Com a Bjork senti vontade de viver.
Percebo que a música unifica. Ela torna comum

ou incomum

o que o texto mostrou

ou não mostrou.

PORRA NEURA.

O exercício é: encontrar possibilidades de música dentro do próprio texto.

Não. Não. Não. Não é isso. O exercício era: encontrar variações melódicas nas falas dos personagens da Estirpe.

Puta que saco. Como é metódica. A gente tá falando a mesma coisa cabeção!

Um puta exercício hein neurinha.

É mesmo.

Sabe que eu fiquei pensando que se a gente tivesse feito por mais tempo ia aparecer muito mais coisa bacana.

Nisso a gente concorda.

E com esse prévio aquecimento cantamos em meio a platéia, vazia ainda é verdade, mas com uma potência que me arrepiou a nuca. Que orgulho! Como é bom fazer parte desse núcleo, desse grupo, dessa neura.

Também acho.



Relatório lido pela Leandro na aula do dia 18/09/2008 da Mariana Senne.
Dia em que tivemos aula no Teatro Fábrica e assistimos ao "Fausto.Org"

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